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sábado, 30 de agosto de 2014

POST 232/2014 - CEMITÉRIO DOS ESCRAVOS

20 de agosto de 2014

Olá... Nesta quarta-feira iniciamos nosso trabalho pela Baixada, que nos levou até próximo a reserva do Tinguá, lugarejo conhecido como Iguaçu Velho. Nesta localidade está localizada a fazenda São Bernardino, outrora residência da Marquesa de Santos, concubina de Dom Pedro I, que a visitava com frequência na época. Hoje, depois de abandonada e de sofrer um suspeito incêndio em meados dos anos 80, está em estado deplorável. Considero até um elogio chamar aquilo de ruínas, para mim são resquícios... 

É lamentável o abandono das autoridades com o patrimônio histórico. Nos idos de 1984, ainda estudante de engenharia, fiz uma estágio na Secretaria de obras da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu e tive oportunidade de ver um belo projeto de restauração da fazenda São Bernardino. Fiquei, na época, muito empolgado com a possibilidade de participar do projeto, mas ele estava no papel e lá ficou até hoje. Esse foi um dos desapontamentos que tive nesta minha curta passagem pelo serviço público.

Próximo da fazenda, existia o cemitério de escravos de Tinguá. Este era exclusivos do escravos, visto que os negros escravos não podiam ser enterrados no mesmo solo que os brancos. Nos primeiros anos de 1800, lá foram enterrados, em valas comuns, os negros escravizados, indigentes e brancos protestantes. Ao retornar pela estrada, avistamos uma placa indicando o referido cemitério e fomos conferir. Chegando lá fiz a foto acima para ilustrar o Blog de hoje. Observem que as cruzes são negras e não há nenhuma identificação de quem, ali, está enterrado. 

Surgiram no início do século XIX alguns cemitérios específicos para protestantes, porque esses eram proibidos de serem sepultados nas igrejas. Um exemplo, ainda em atividade, é o Cemitério dos Ingleses no Gamboa, centro do Rio. Católicos ricos nunca eram enterrados, eram sepultados dentro de tumbas (nichos) nas paredes ou em sepulturas sob o piso das igrejas que eram administradas pela irmandade religiosa a que o defunto pertencia.

Um Decreto do Governo proibiu a partir de 1840 que quaisquer sepultamentos fossem realizados dentro de igrejas. Por isso foram criados os primeiros cemitérios para atender as elites, antes sepultadas nas igrejas, surgindo assim os "campos santos" localizados ao fundo ou na lateral de cada igreja. No caso da freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu,  já havia o cemitério de escravos na colina de um morro (ainda em atividade, na época), então foi determinado a construção um cemitério (campo santo) para os católicos ricos ao lado da igreja matriz.

Neste mesmo ano, 1840,  foi criado então o cemitério para brancos católicos ao lado da igreja matriz, no pé do morro, sendo este utilizado para os sepultamentos dos integrantes da elite local. Assim, o cemitério dos escravos ficou no alto do morro vizinho ao cemitério de Nossa Senhora da Piedade do Rosário (cemitério dos brancos), ambos pertencente hoje a Reserva do Tinguá, em Nova Iguaçu. O cemitério de Nossa Senhora do Rosário, foi desativado em 1875 e também está em ruínas. 

E assim a memória histórica de nosso país vai sendo apagada pelo descaso daqueles que a deveriam preservar.  Esse é apenas um exemplo, mas como este existem inúmeros outros pelo Brasil afora. 

Até a próxima,
                      Amo vocês,
                                        Marcel Peixoto.

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