FUNK
“Eu só
quero é ser feliz...”
Essa frase, de um dos refrãos mais
badalados do funk carioca, representa muito essa cultura, ou estilo musical,
como preferir. Os adeptos estão à procura de extravasar, de esquecer as
dificuldades de seu dia a dia, de serem protagonista de uma vida que só lhes
trazem barreiras.
Mas, para entendermos melhor tudo
isso, precisamos entender como surgiu esse movimento que, na verdade, nasceu
bem distante de nós, na década de 60, através da música negra norte-americana.
Com uma mistura de soul music, R&B, rock e da música psicodélica, em alta
na época, nasce o funk, mas com característica próprias, ritmo malandreado, com
baixos e metais fortes e ritmados e, principalmente, com percussão acentuada e
dançante. Foi imediatamente considerado indecente,
pois a palavra “funk” tinha conotações sexuais na língua inglesa.
Duas décadas depois, chegou ao Rio
de Janeiro com algumas alterações, influenciadas por um novo ritmo originário
da Flórida, o Miami Bass, que dispunha de músicas erotizadas e batidas mais
rápidas.
Ao final da década de 80, os bailes
funk começaram a atrair muitas pessoas. Inicialmente, as letras falavam sobre
drogas, armas e a vida nas favelas e posteriormente a temática principal do
funk veio a ser a erótica, com letras de conotação sexual e de duplo sentido.
As comunidades abraçaram o
movimento, pois sentiam-se ali representadas. Os famosos bailes, aconteciam dentro
de suas localidades e as músicas falavam de seu cotidiano. Nenhum outro evento
musical se dava em seu território, pois o abandonado do poder público, não
possibilitava a segurança necessária para fazê-lo. Aos poucos, um poder
paralelo foi se instalando e fomentando ainda mais os bailes, pois pelo acúmulo
de pessoas, viam facilitadas suas ações criminosas e o tráfico passou a
imperar.
Tal fato fez com que o preconceito
aumentasse ainda mais sobre o movimento, conferindo-lhes aos frequentadores,
que em sua maioria eram pobres, pretos e moradores da periferia, mais um
estigma: funkeiro.
Retornado a nossa primeira frase, O
Rap da Felicidade (Cidinho E Doca — https://www.youtube.com/watch?v=7pD8k2zaLqk — lançado em 1994), retrata muito
bem a situação que discorremos. Na sequência, apenas 2 anos depois, Mc Bob Rum
lança o Rap do Silva (https://www.youtube.com/watch?v=vlZ9MGgC1NI), que conta a história de um pai
de família, trabalhador e que gostava muito do movimento. Esses dois funks vão
muito além de músicas, pois refletem um contexto histórico de preconceitos,
abandono das periferias pelo poder público e a tentativa de apagamento das
culturas oriundas dos movimentos negros.
Depois dessa fase inicial, com músicas
melodiosas, como as de Mc Marcinho e da inesquecível dupla Claudinho e Buchecha,
houve uma deterioração das letras, e a batida empolgante, apesar de se manter,
ficou prejudicada por letras sexualmente explicitas, afastando o grande público
do movimento.
Com o passar do tempo, o funk
carioca foi rompendo fronteiras e se popularizando em várias partes do Brasil e
inclusive no exterior. E hoje, depois de mais de quatro décadas, mesmo com os
sucessos de ícones como Anitta e Ludmilla, oriundas do movimento, o funk ainda
sofre com os preconceitos, ficando notoriamente conhecido como um movimento
periférico. No entanto, é notório que
hoje o funk não mais se restringe a um contexto de periferia, basta frequentar
qualquer festa “de playboy e de patricinha” para ver o efeito que o ritmo
produz.
Qual o futuro do funk? Observando um
dos maiores produtores de vídeo clipes de funk do YouTube na atualidade, KondZilla,
com seus mais de 66 milhões de inscritos e lançando diversos clipes novos por
semana, pode-se dizer que o futuro do movimento ainda é muito próspero e
promissor. Com sua batida extremamente contagiante, que seja longa a vida dessa
parte tão rica de nossa cultura.
Até a próxima,
Amo vocês,
Marcel Peixoto